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graças a deus pelas cores

 

vindo ao trabalho hoje, com minha moto laranja, cento e cinquenta cilindradas, olhando o azul do céu do lado esquerdo e o cinza escuro do direito, corro para não pegar chuva. se estivesse voltando do trabalho eu iria bem devagar, de propósito. para pegar chuva. é muito bom quando não se tem compromisso.

 

mas não era isso que eu queria falar.

 

eu queria falar do cinza dos carros. você já viu quantos carros cinzas? que ridículo! quer dizer, ridículo em meu ponto de vista.

 

de repente passa um fiat amarelo. que maravilha! destaca-se entre todos. que coragem desse motorista, fugir do normal, afrontar a todos com a perspectiva de perder no futuro.

 

perder? sim, o cinza dos carros é porque desvaloriza menos.

 

acredita? desvalorizando menos você tem algo feio, comum, igual a todos, que não foge dos padrões, que obedece dogmas, que obedece mídia, que obedece conceitos criados pelos mesmos que criaram o carro cinza.

 

graças a deus pelas cores.

 

de repente, uma árvore rosa. quer dizer, florida de flores cor-de-rosa. ao lado, outra árvore, amarela. o céu cinza parece querer chamar a atenção, pingando algumas gotas que naquele momento parecem cinza para mim.

 

o cinza cai do céu, mas não considero abençoado por deus.

 

já pensou em gotas coloridas? não! nem pensar! iria afrontar alguma lei. iriam proibir na mídia. iriam exigir de são pedro que chovesse cinza. então, que chova cinza.

 

graças a deus pelas cores.

 

curioso. a mulher que atravessa a rua com um cachorrinho (não é a mesma de ontem) está com calça jeans (cinza escuro) e camiseta cinza claro. o cachorro é branco acinzentado de sujeira. a rua é cinza super escuro.

 

a vida está ficando cinza? ou serei eu? não. eu não. eu ainda vejo colorido.

 

e graças a deus pelas cores.

 

jorge de siqueira

 

 

 

 

 

 

 

todas as crônicas são de autoria de jorge de siqueira

 

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