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trapezista

 

solte suas mãos

confia em mim

pule

eu te seguro.

 

pegue em minhas mãos

segure forte

e deixe que eu te leve

ao meu trapézio

ao meu mundo

à minha vida.

 

venha comigo

não tenha medo.

 

mas parece que você não quer

nunca solta seu trapézio.

 

o que você teme?

eu?

meu jeito de ser?

 

sim

sou um trapezista

essa é a minha vida

tornei-me assim.

 

vivo de um lado para o outro

me seguro até quando posso

depois, solto,

e caio.

 

mas

subo a escada novamente

e recomeço.

 

que sabe

um dia

você possa me ajudar

eu seguro em suas mãos

você segura as minhas.

 

juntos ficaremos mais fortes.

 

poderemos até

largar o trapézio

e nos tornarmos domadores

malabaristas

ou até palhaços.

 

venha

confia em mim

solte suas mãos

e caia.

 

em meus braços...

 

 

 

seguindo o sol

 

entro no carro

passo o cinto de segurança

o tanque está cheio

tudo normal

começo a viagem.

 

daqui a alguns minutos

a rotina recomeça:

trabalho

burocracia

igual a todo dia.

 

na estrada

vejo o sol brilhando lá na frente

e começo a viagem.

 

resolvi seguir o sol.

seguir a liberdade.

 

não vou desobedecer as regras

respeitarei os limites 

de velocidade

placas

semáforos.

 

tudo como tem de ser.

 

a velocidade constante

a estrada com suas nuances

curvas e retas

e o sol

sempre à frente.

 

passam sps, rjs, brs,

estradas se unem

e me afastam da realidade.

 

as horas passam

o sol cada vez mais elevado

e só paro para abastecer.

 

é meio-dia

fico confuso

o sol está no alto.

 

para onde devo ir?

 

paro

espero

aproveito para almoçar

a marmita minha de cada dia.

 

o sol começa a descer

agora posso continuar

a seguir o sol.

 

liberdade.

 

vou encontrar meu pote de ouro

vou encontrar a cidade perdida

vou desvendar uma nova maravilha do mundo.

 

as horas passam.

meus olhos fixos no sol

não olham sequer o caminho

não uso mapas

o sol me guia.

 

não percebo quando o sol se põe

diminuo a velocidade

e chego

finalmente

ao ponto de partida:

o portão da minha casa.

 

coloco as mãos na cabeça

no meu desespero

percebo que andei o dia todo

e não soube para onde ia.

 

não vi o cristo redentor

ao lado da estrada

porque não estava na linha do sol.

 

não vi a catedral de aparecida

com todo seu movimento

humano e sobrenatural.

 

não vi os rios

os montes

cascatas.

não vi pessoas

sorrisos e lágrimas.

 

porque não estava na linha do sol.

 

agora percebo

que nas viagens

não importa o destino

o que importa é a viagem.

 

abra a porta

desça do carro

ponha os pés no chão.

 

sinta a vida

pois a verdadeira viagem

ainda é viver...

 

 

 

todas as poesias são de autoria de jorge de siqueira

 

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